Apresentação

O Forlibi surgiu da necessidade de unir as línguas brasileiras de imigração com o objetivo de instaurar um diálogo permanente entre estas comunidades linguísticas, e se propõe a ser um espaço de pesquisa, mediação e articulação política em variadas frentes para o fortalecimento das mesmas. Reunindo falantes e representantes das línguas de imigração e de instituições parceiras, tem como propósito delinear ações coletivas para a promoção das línguas nas políticas públicas em nível nacional.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

1º Encontro Nacional dos Municípios Plurilíngues abre inscrições para monitoria

1º Encontro Nacional dos Municípios Plurilíngues abre inscrições para monitoria

Eduarda Hillebrandt*

O 1º Encontro Nacional dos Municípios Plurilíngues (ENMP), que ocorrerá entre os dias 23 e 25 de setembro, no térreo do Bloco B do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), está com inscrições abertas para monitoria. Alunos de graduação e pós-graduação interessados devem enviar email com nome, curso e número de matrícula para o endereço 1enmp2015@gmail.com , com cópia para evanesju@gmail.com . Monitores são isentados da taxa de inscrição, recebem certificado e camiseta.

O 1º ENMP propõe uma troca de experiências sobre a política de cooficialização das línguas no Brasil, além discutir o panorama, mapeamento e regulamentação da diversidade linguística no país. Desde a inciativa do município amazonense de São Gabriel da Cachoeira em 2002, que deu caráter cooficial a três línguas indígenas, 16 municípios brasileiros já cooficializaram línguas. Em Santa Catarina, a língua alemã em Pomerode e o dialeto germânico Hunsrückisch em Antônio Carlos tornaram-se cooficiais em 2010.

Realizado pelo Instituto de Investigação e Desenvolvimento de Política Linguística (IPOL) em parceria com a UFSC, o evento reunirá gestores municipais, líderes de associações culturais, pesquisadores e membros de comunidades linguísticas brasileiras. O encontro tem o apoio do Observatório de Políticas Linguísticas  da UFSC; do Macroprojeto ALMA-H, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e do Projeto Entrelínguas, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Mais informações no site do evento.

* Eduarda Hillebrandt é Estagiária de Jornalismo/Agecom/UFSC.

Contacto Social – El informativo de los trabajadores (Canal Capital, Colombia)


Contacto Social – El informativo de los trabajadores (Canal Capital, Colombia)

Este Domingo 10 am por Canal Capital (Colombia) no se pierda Contacto Social -  El informativo de los trabajadores.


Fonte: e-IPOL

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

VI Encontro do GELIC - Grupo de Estudos de Línguas em Contato

VI Encontro do GELIC - Grupo de Estudos de Línguas em Contato

07 a 09 de dezembro de 2015
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Letras
Rua Barão de Jeremoabo, nº 147 CEP: 40170-115
Campus Universitário Ondina, Salvador-BA
gelic.vi.2015@gmail.com

A Comissão Organizadora do VI Encontro do GELIC convida pesquisadores, professores e estudantes de graduação e pós-graduação a participar do evento enviando propostas de comunicações e posters enfocando temas relacionados ao contato linguístico. Para o encontro de 2015, incentivam-se os seguintes temas:
  • A língua portuguesa popular em contato com as variedades consideradas 'cultas'
  • A língua portuguesa de comunidades quilombolas
  • Contato entre a língua portuguesa e línguas indígenas, línguas de imigrantes ou línguas nas fronteiras
  • As línguas de sinais em situação de contato
  • As línguas crioulas
  • O contato entre línguas indígenas, ou entre línguas indígenas e línguas de fronteira
  • O multilinguismo: português/línguas indígenas/línguas de imigrantes/línguas de fronteira
Para maiores informações acesse aqui a página do Encontro.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Livro escrito pelo alemão Max Humpl em 1918 ganha versão em português e resgata parte da história de Blumenau

Entre diários de família, correspondências e livros de receitas, vários manuscritos aguardam tradução - Foto: Rafaela Martins/Agência RBS).

Tesouro revisitado
Livro escrito pelo alemão Max Humpl em 1918 ganha versão em português e resgata parte da história de Blumenau

Manuscrito estava entre os documentos que aguardam tradução no Arquivo Histórico da cidade

Camila Iara

No início do século 20, Altona era um termo carinhoso usado para se referir a um bairro blumenauense que, mais tarde, seria batizado de Itoupava Seca. Conhecida na época pela independência econômica, principalmente no setor metalmecânico, em 1933 a região também emprestou o nome para uma das empresas mais tradicionais da cidade até hoje: a Electro Aço Altona. Quase cem anos depois, um livro viabilizado pela fábrica em parceria com o Fundo Municipal de Apoio à Cultura e a EdiFurb vai revisitar, através do olhar do professor alemão Max Humpl, a história das primeiras levas de imigrantes que desembarcaram no Vale do Itajaí. 

Escrita originalmente na grafia sütterlin, utilizada na Alemanha entre 1915 e 1970, a obra Crônica Do Vilarejo De Itoupava Seca: Altona desde a Origem até a Incorporação à Área Urbana de Blumenau será lançada nesta quarta-feira, 19/08. O manuscrito, finalizado em 1918, foi doado pela família Humpl ao Arquivo Histórico de Blumenau e acabou nas mãos da historiadora Méri Frotscher e do mestre em Letras Adriano Steffler, que fizeram a tradução — primeiro para o alemão contemporâneo e depois para o português — com a ajuda do alemão Johannes Kramer. 

— É um projeto realizado com muito carinho por uma equipe que tinha como objetivo fazer jus ao trabalho de Humpl, que não pôde ver a publicação em vida. Para nós é uma grande felicidade deixar à disposição tanto dos leigos quanto dos pesquisadores uma fonte tão histórica — comenta Méri.

Acompanhado de farto material fotográfico cedido pelo Arquivo Histórico — as  fotografias e aquarelas originais do manuscrito foram queimados no trágico incêndio que atingiu a Fundação Cultural em 1958 —, o livro mostra o surgimento da cidade por meio de fatos e curiosidades já esquecidos. 

Também fazem parte da crônica biografias e árvores genealógicas dos moradores, além de descrições vívidas da flora, fauna, geografia, política, religião, esporte e cultura de Altona.

— Estou no Arquivo Histórico há muitos anos e me incomodava ver aquele livro grande, de letra bonita, bem organizado e que eu não conseguia ler. A obra traduzida tem uma leitura agradável e nos mostra a Blumenau daquele tempo de uma forma muito precisa. O povo ganha uma preciosidade, e nós, pesquisadores, um novo olhar sobre aquela região e o processo de povoamento da cidade — diz Sueli Petry, diretora do departamento histórico e museológico da Fundação Cultural de Blumenau.

Manuscritos aguardam tradução no Arquivo Histórico
Além do material documentado pelo professor alemão Max Humpl em 1918, outras dezenas de arquivos nas grafias sütterlin e gótica dos séculos 19 e 20 estão à espera de tradução no Arquivo Histórico de Blumenau. Mas a demanda esbarra na falta de mão de obra especializada. Segundo Sueli Petry, diretora do departamento histórico e museológico da Fundação Cultural, não há nenhum tipo de projeto específico para viabilizar esse tipo de trabalho, é tudo feito no improviso:

— Hoje contamos apenas com voluntários que sabem ler e interpretar o alemão gótico e eventualmente se disponibilizam para ajudar o arquivo. São pessoas que deixam o lazer de lado para se dedicar à memória da cidade.

Entre os arquivos doados (e cuidadosamente guardados em uma gaveta na sala da própria Sueli), preciosidades como diários de família, antigas correspondências e até cadernos de receitas remontam a vida de quem habitou Blumenau naquela época. De acordo com Sylvio Zimmermann, presidente da Fundação Cultural, não há em vista a criação de um núcleo dedicado à captação de profissionais que possam viabilizar as traduções:

— Nossa missão é cada vez mais preservar e digitalizar os materiais. O ideal seria ter um programa só para isso, mas não é nossa prioridade agora. 

Vídeo: A historiadora Sueli Petry revela preciosidades e fala sobre a importância dos manuscritos em alemão para a história de Blumenau (assista abaixo ou clique aqui).


Escritor, professor de Letras da Furb e editor executivo de Crônica do Vilarejo..., Maicon Tenfen conta que já houve algumas tentativas, tanto de membros da universidade quanto da Fundação Cultural, de criar um projeto do tipo:

— Infelizmente, nenhum desses projetos vingou. Agora, graças a Méri Frotscher, podemos ler o texto de Max Humpl. É uma forma de entender como pensavam os primeiros habitantes da região, os pioneiros, o pessoal que projetou a cidade, com erros e acertos, para que ela fosse o que é hoje.

Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau
Autor: Max Humpl | Editora: EdiFurb

A Crônica de Max Humpl apresenta-nos uma narrativa sobre o cotidiano e o passado de Itoupava Seca - Altona, desde meados do século XIX até a sua finalização, em 1918, quando a localidade foi incorporada à área urbana de Blumenau. A tradução da versão manuscrita em língua alemã durante a Primeira Guerra Mundial, que jamais chegou a ser publicada, mostra um retrato vívido daquele tempo pretérito ao leitor, quase um século depois.
Categoria: Literatura
ISBN: 9788571142268
Páginas: 227
Medidas: 21,5x27,7 cm
Peso: 0.98 kg
Lançamento: 2015
R$ 60,00 Preço sugerido

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Títulos da Coleção Canaã, sobre a imigração no Espírito Santo, são disponibilizados para baixar

Títulos da Coleção Canaã, sobre a imigração no Espírito Santo, são disponibilizados para baixar

O Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, na página de sua Biblioteca Digital, disponibiliza links para baixar arquivos em pdf de obras produzidas por aquela instituição. Dentre as obras disponibilizadas, nesta postagem recomendamos aquelas referentes à imigração em seu Estado, todas da Coleção Canaã.

Para acessar os títulos da coleção, é preciso abrir a página do Arquivo Público do Estado do ES (ver aqui), clicar em Biblioteca Digital (no canto direito) e, na página que abrir (embaixo à direita), clicar no logo da Coleção Canaã.

Listamos a seguir os 20 títulos disponibilizados:
  • Índios Botocudos no Espírito Santo no Século XIX
  • Italianos – base de dados da imigração italiana no Espírito Santo nos séculos XIX e XX
  • Imigrantes – Espírito Santo
  • Viagem pelas Colônias Alemãs do Espírito Santo
  • Nossa Vida no Brasil
  • Viagem ao Espírito Santo – 1888
  • Fazenda do Centro
  • Pomeranos sob o Cruzeiro do Sul
  • Donatários, Colonos, Índios e Jesuítas
  • Província do Espírito Santo
  • Carlos Lindenberg
  • Os Capixabas Holandeses
  • História do Estado do Espírito Santo
  • Viagem de D. Pedro II ao Espírito Santo
  • Colônias Imperiais na Terra do Café
  • Viagem à Província do Espírito Santo
  • Donatários, Colonos, Índios e Jesuítas
  • Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania o Estado do Espírito Santo (1585-1822)
  • Projecto de um Novo Arrabalde
  • Relato do Cavalheiro Carlo Nagar Cônsul Real de Vitória

  

    



Fonte: e-IPOL

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Segunda Circular do 1º Encontro Nacional de Municípios Plurilíngues (1ºENMP)

1º Encontro Nacional de Municípios Plurilíngues (1ºENMP)
Florianópolis, 23 a 25 de setembro de 2015
Organização: IPOL - Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística, Observatório de Políticas Linguísticas (CNPq/UFSC)
Parceria Institucional: Macroprojeto ALMA-H (UFRGS), EntreLinguas (UFSM), IPHAN/MinC.
Apoio: Fórum Permanente das Línguas Brasileiras de Imigração (Forlibi) e Programa de Valorização da Língua e Culturas Macuxi e Wapichana 

SEGUNDA CIRCULAR

Encerrado o prazo para recebimento de trabalhos, expressamos nossa alegria pelo grande interesse manifesto pelo evento. Tivemos a honra de receber propostas de várias partes do Brasil e esperamos que o debate seja proveitoso para todos. Sabemos do valor do investimento feito, e esperamos que o encontro em si, assim como o minicurso e a oficina, ofertados como parte do 1ºENMP, proporcionem boas trocas de conhecimentos, experiências e afetos. Com base nas inscrições já confirmadas e nas manifestações que recebemos, vimos informar que:

Sobre as inscrições:
1. As vagas reservadas para participação isenta de taxa de inscrição foram todas preenchidas. Não serão aceitas novas solicitações.
2. Os que tiveram seu pedido de isenção aceito serão avisados e orientados por email específico.
3. Ampliamos o prazo para inscrição com desconto até 16 de setembro, atendendo às solicitações de colegas e esperando, com isso, possibilitar a vinda de todos. 
4. No entanto, encerra-se em 31 de agosto o prazo para inclusão do trabalho na programação. 
5. As inscrições poderão ser feitas inclusive nos dias do Encontro. Ressaltamos, no entanto, que após 16 de setembro, elas voltarão ao valor integral. 
6. As inscrições institucionais permanecem abertas e os interessados devem entrar em contato conosco através do email do encontro: 1enmp2015@gmail.com 

Sobre o minicurso e a oficina:
7. O minicurso e a oficina têm vagas limitadas. 
8. A partir das manifestações de interesse por essas atividades no ato de inscrição, os interessados que obtiveram vaga receberão instruções por email a partir do dia 31 de agosto.

Sobre a certificação:
9. A participação em todo o ENMP será certificada com 30h de atividades.
10. Os inscritos no minicurso receberão certificado específico, com 6h de atividades.
11. Os inscritos na oficina receberão certificado específico, com 4h de atividades. 

Acompanhe as notícias no nosso site http://1enmp2015.blogspot.com.br. Aguardamos vocês.  

A Comissão Organizadora

domingo, 9 de agosto de 2015

Vídeo sobre a língua Talian

Assista abaixo (ou acesse aqui) ao vídeo sobre a língua Talian, elaborado quando da certificação da língua Talian como patrimônio cultural junto ao Governo Brasileiro (ver Notícia aqui).

sábado, 8 de agosto de 2015

Os pomeranos: um povo sem Estado finca suas raízes no Brasil

Registro de imigrantes pomeranos (sem data e local). Foto: pmsmj.es.gov.br

Os pomeranos: um povo sem Estado finca suas raízes no Brasil

Por Gustavo Barreto*

Imigrantes oriundos de Pomerânia tiveram de fugir de crises e perseguições sucessivas na Europa para tentar refazer sua vida no Brasil, único país do mundo onde ainda se fala regularmente o idioma pomerano.

A imigração em algumas regiões do Brasil passa praticamente desapercebida da imprensa dos grandes centros urbanos, como é o caso dos milhares de pomeranos que vivem atualmente no Estado do Espírito Santo. A Pomerânia, que não existe mais no mapa da Europa, era uma região localizada ao norte da Polônia e da Alemanha, na costa sul do Mar Báltico, pertencente ao Sacro Império Romano-Germânico até o começo do século XIX, tornando-se posteriormente parte da Prússia e, mais tarde, terminada a Segunda Guerra Mundial, dividida entre a Polônia e a Alemanha.

Conforme registra um artigo da Revista de História da Biblioteca Nacional, seus descendentes imigraram sobretudo para colônias nos EUA, no Canadá e, principalmente, no Brasil. Os pomeranos se estabeleceram, já a partir do início da segunda metade do século XIX[1], principalmente em quatro estados brasileiros: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Rondônia[2]. E é justamente no Espírito Santo que está uma das maiores colônias pomeranas do mundo: cerca de 140 mil pessoas[3], a maioria morando em Santa Maria do Jetibá, na região serrana capixaba, a cerca de 80 quilômetros de Vitória. Em todo o Brasil, há cerca de 300 mil pomeranos.

Atraídos com a tradicional promessa, por parte do governo imperial, de se tornarem proprietários agrícolas, os pomeranos tiveram que trabalhar nas terras de brasileiros. “Só mais tarde receberiam do imperador pequenos lotes e galinhas. Só contavam uns com os outros e não falavam o português”, diz Nilton Capaz, secretário de Turismo e Cultura de Santa Maria do Jetibá[4].

Durante a Segunda Guerra, os pomeranos foram confundidos com nazistas e duramente discriminados. “Na Vila Pavão, suas propriedades foram invadidas, livros e documentos foram destruídos e as mulheres sofreram abusos. Os agressores eram conhecidos como ”bate-paus”, uma espécie de milícia formada por civis e militares”, registra a RHBN[5]. “Era impossível falar pomerano sem ser confundido com os admiradores de Hitler”, conta Nilton. Uma dupla ignorância, esclarece o o etnolinguista Ismael Tressman, autor de um Dicionário Português-Pomerano, já que o pomerano e o alemão são línguas distintas, com os pomeranos falando um idioma cujo tronco linguístico é mais próximo do inglês e do holandês.

“Diversas campanhas pela nacionalização dos imigrantes germânicos tiveram impactos muito negativos, principalmente sobre as gerações mais jovens. As perseguições e humilhações públicas por ocasião da Segunda Guerra àqueles que tinham alguma relação com a Alemanha afetaram de maneira particular as comunidades pomeranas, principalmente quando foram forçadas a entregar seus livros para incineração e adotar o uso obrigatório da língua portuguesa nas escolas e nos templos”, diz Hilda Braun, coordenadora-geral da Associação da Cultura Alemã do Espírito Santo, em 2013, por ocasião dos 154 anos de imigração pomerana na região e do lançamento de uma tradução para o português do livro Pomeranos unter den Kreuz des Südens (Pomeranos sob o Cruzeiro do Sul)[6].

Por conta dessa perseguição, Braun sugere que sejam implementadas “ações afirmativas oficiais” para valorizar as “origens e identidade campesina deste que é um dos povos tradicionais da organização social brasileira”, como uma forma de “resgate da dívida social”. Segundo Braun, o pomerano é um idioma vivo e dinâmico, porém falado apenas no Brasil.

No dia 1o de novembro de 1936, poucos anos antes de os pomeranos – bem como os alemães, italianos e japoneses – se tornarem quase que subitamente “inimigos” por conta do preconceito linguístico, um artigo do jornal Correio Paulistano enaltece a Alemanha como um país “de belleza magnificente e incomparavel que atrae e captiva os corações”[7]. Em um trecho, registra o jornal paulista (com grifos meus): “A leste do [rio] Elba, no Mecklenburgo e na Pomerania, habitavam os ostrogodos, vandalos, godos e burgundos, que tinham emigrado no seculo III para as bandas do oeste em busca de terras ferteis”. E continua: “Do seculo VI até os seculos X e XII estes povos voltaram a atravessar o Elba, expulsando pouco a pouco as tribus eslavas – obotritas e sorabes, pomeranos e polacos”.

Artigo de página inteira do jornal Correio Paulistano, no dia 1o de novembro de 1936, registra os antepassados dos pomeranos. Imagem: reprodução

A descrição da Alemanha como um verdadeiro paraíso na Terra, realizada provavelmente por um divulgador do país no Brasil – assina o artigo Ludwig Kapeller – tem uma curiosa descrição dos alemães de uma determinada área do país: “Os habitantes são tão simples como toda a paizagem da ilha [no Mar Báltico]. São frisões de bellos olhos azues e cabellos louros, muito pouco faladores, a ponto de só chegarem a abrir a bocca para dizerem coisas sensatas e verdadeiras. Por isto mesmo, é gente em quem se pode confiar”.

Já no contexto da Segunda Guerra, em 1940, uma edição do jornal O Imparcial dá uma breve ideia acerca da xenofobia da Era Vargas. O diretor desta publicação é J. S. Maciel Filho, que ficou notabilizado como redator dos discursos de Getúlio Vargas. A capa de O Imparcial de 18 de dezembro daquele ano estampa: “Uma revelação gravissima; Mais de duzentas propriedades onde não se fala portuguez”[8]. O alvo: os pomeranos e alemães do Espírito Santo.

Trecho da capa de 'O Imparcial' de 18 de dezembro de 1940

A curta nota – publicada contudo com destaque – informa que o Serviço Nacional de Recenseamento fora informado por um de seus agentes que, em uma “longa faixa do Estado do Espírito Santo” pelo qual ele estava encarregado, com cerca de 425 quilômetros, não havia “um só indivíduo” que falasse português. A área fora identificada pelo jornal: o distrito de Jequitibá, no município de Santa Leopoldina. Trata-se, justamente, do atual município de Santa Maria de Jetibá[9], anteriormente mencionado. Atualmente, o slogan da cidade é “O Município mais pomerano do Brasil”, com uma versão da frase escrita em pomerano.

Para realizar o censo, diz o jornal em tom de alerta, o agente teve de contratar intérpretes pomeranos e alemães. O jornal continua: “Segundo observação com autoridades censitárias naquelle Estado, tal é o alheiamento desse nucleo colonial ao meio brasileiro que os próprios decendentes dos colonos, nascidos aqui, tambem não falavam nem entendem a lingua portugueza”. E conclui: “D’agora em deante, segundo comunica o Serviço de Recenseamento, aquella região ficará incluida nas cogitações que o assumpto merece”.

As cidades “pomeranas”, registra a Revista de História da Biblioteca Nacional, eram em 2008 os maiores expoentes na agricultura do Espírito Santo, destacando-se pela produção de ovos – então a segunda maior do país[10]: “A cultura não só foi preservada, como vem sendo valorizada. Há grupos de dança folclórica e música tradicional[11]. Os rituais de casamento são bem característicos, com festividades que começam cerca de um mês antes da cerimônia. E desde 2005 o Proepo (Programa de Educação Escolar Pomerana) ensina pomerano a crianças e jovens de cinco municípios. Para os da zona rural, acostumados somente à língua ancestral, o reforço é em português”.

Foto de grupo folclórico pomerano no Espírito Santo, em maio de 1991. Foto: ospomeranos.com.br

Em meados do século XX, um grupo de famílias de agricultores pomeranos migrou internamente do Espírito Santo para Rondônia. A migração ocorreu no final da década de 1960, com mais problemas: ao tentar chegar no município de Espigão do Oeste, quase divisa com o Mato Grosso, depois de enfrentar muitas dificuldades no caminho, tiveram de enfrentar uma “corrupção endêmica” dos tempos da ditadura civil-militar.

Segundo um dos pioneiros da travessia, Martino Tesch, relatou a um meio de comunicação de Rondônia em 2014, além de terem sido obrigados por policiais a entregar todas as suas economias em dinheiro, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), então sob comando de interventores do regime ditatorial brasileiro, fez com que os agricultores perdessem grande parte de suas terras a partir de uma determinação fundiária. As terras de cerca de 200 famílias que cultivavam milho, feijão e arroz foram cortadas ao meio. Conforme relato do meio de comunicação local, News Rondônia[12], na tarde do dia 29 de abril de 1974 uma patrulha formada por 15 policiais invadiu acampamentos, espancando homens, mulheres e crianças, destruindo ranchos e quebrando utensílios domésticos, além de aprisionar diversos colonos.

Caminhoneiros enfrentavam atoleiros na BR-364. Foto: newsrondonia.com.br/Acervo de Martino Tesch

O conflito agrário, conta o periódico local, chegou a Brasília por meio de um deputado do MDB (o partido legalista da oposição), Jerônimo Santana, que denunciara na tribuna do Congresso Nacional e junto às autoridades a situação. O relato do periódico fala por si só:

Por determinação do presidente, um grupo de agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) deslocava-se até Espigão para investigar e apresentar um relatório sobre os conflitos naquele distrito. Ouviram dezenas de pessoas e retornaram a Brasília, apresentando um relatório no qual fazia constar que ali residiam trabalhadores rurais e famílias perseguidas e taxadas de “agitadoras e comunistas” pelos governantes do Território.

O oficial que redigiu o relatório ao presidente diria: “São pacíficos, trabalhadores branquinhos, que nem o senhor”. Numa canetada só, Geisel exonerava o então governador do extinto Território, Theodorico Gahyva, e o executor do Incra, Sylvio Gonçalves Faria, apaziguando os ânimos na região.

Com recomendação expressa para tratar bem os agricultores de Espigão do Oeste, o presidente nomeava Humberto da Silva Guedes, em substituição a Gahyva. Desde então, os conflitos acabaram e mais tarde o governador Jorge Teixeira visitava frequentemente a região.

Ainda no século XIX, os primeiros pomeranos contaram, pelo menos na teoria, com a boa vontade das autoridades imperiais, pelas mesmas razões já amplamente documentadas aqui: eram brancos, europeus e majoritariamente agricultores. É o que demonstra, por exemplo, um editorial do jornal O Cruzeiro, publicação sediada no Rio de Janeiro e que durou apenas um ano. O jornal dá destaque aos pomeranos em sua edição de 28 de janeiro de 1878, sob o título “Colonisação Pomerana”[13], seguido dos dizeres Res non verba (em latim, “Fatos e não palavras”, pedindo ação imediata para a questão).

Chamando atenção para a importância de “novos braços” para a lavoura, o editorial argumenta, em tom de lembrete, que os europeus poderiam enriquecer a lavoura “pelos processos e machinas conhecidos na culta Europa e tão familiares aos seus agricultores”. Fomentar a boa imigração por meios diretos e indiretos, diz o texto, “é hoje uma necessidade imprescindivel para o progresso do paiz”. Em pelo menos uma coisa o editorial havia acertado: os pomeranos sempre foram historicamente vinculados à agricultura familiar.

O alerta sobre o risco de lançar mão de políticas migratórias insatisfatórias veio por meio da citação das palavras do ministro da Agricultura, citado pelo O Cruzeiro: “Se o colono destinado á vida agricola não encontrar á sua chegada ao paiz, na tutella do governo ou dos proprietarios e capitalistas um auxiliar intelligente que dirija seus primeiros passos, que o guie na escolha de uma cultura productiva, em vez de um homem feliz, membro util ao Estado, tornar-se-ha um ser inutil e ira augmentar a classe dos proletarios que dão crescido numero de descontentes tão prejudiciaes ao paiz”.

O jornal 'O Cruzeiro' dá destaque aos pomeranos em sua edição de 28 de janeiro de 1878, sob o título 'Colonisação Pomerana'

O editorial afirma que o ministro adotará medidas “promptas e adequadas a facilitar a vinda de immigrantes e seu consequente estabelecimento no paiz”, passando a “lembrar” algumas das medidas que o próprio jornal considera adequadas. Uma delas seria a de subvencionar a imigração dos “russos-allemans da seita protestante” que almejam vir ao país para se unir a parentes já estabelecidos no Rio Grande do Sul, onde – segundo o editorial – “gozam de um bem estar melhor do que aquelle que desfructavam na mãe-patria”.

Outra medida “não menos importante” é a de “auxiliar” – como o editorial chama as subvenções estatais – a imigração de “allemans da provincia Pomerania”, garantido-lhes passagem para que possam se estabelecer no Brasil. Sobre os pomeranos – que, como já destacamos, não eram alemães –, o editorial destaca: “A melhor e mais numerosa classe de imigrantes allemães que temos recebido nestes ultimos tempos são d’essa provincia prussiana”.

Após explicar como se dá a relação das autoridades brasileiras com as prussianas – sempre por meio de contratos “mais ou menos longos” –, o editorial ressalta que os pomeranos são “laboriosos colonos” e pede atenção para que as autoridades possam garantir, dentro do tempo estipulado nos contratos, os “favores que nossas leis outorgam aos colonos”. E compara: “É mister ter em vista que os agentes e governos da Australia, Nova-Zelandia, Canadá, etc., não sómente sabem conhecer d’essa opportunidade com grande sabedoria tirando d’ella o melhor partido possível para a causa que protegem”.

Pedindo que o cônsul brasileiro em Hamburgo tenha “os meios necessarios para auxiliar e promover a emigração d’esses laboriosos immigrantes em Fevereiro e Março”, o editorial afirma que o Tesouro brasileiro sediado em Londres deve disponibilizar os recursos no tempo certo. O ano de 1876, registra o editorial, registrou um aumento no número de imigrantes, com o Brasil sendo o principal destino de imigrantes alemães na América do Sul.

O editorial dá a fórmula: além da obrigação de o governo tutelar os imigrantes para que estes sejam guiados em seus primeiros passos, a “cultura lucrativa e mercado proximo são elementos essenciaes á prosperidade dos immigrantes agricultores”. Por isso, conclui, é preciso entregar a direção dos estabelecimentos coloniais a um “pessoal conhecedor de suas multiplas necessidades e capaz de encaminhal-os com prudencia, honestidade e intelligencia”.

Como a maior parte dos principais jornais à época, as angústias dos imigrantes ou suas reivindicações raramente eram ouvidas: a imprensa tratava sobretudo de negócios. Com a agricultura como setor-chave do Brasil Império, a discussão – mesmo que contendo eventualmente críticas às autoridades – era sobretudo sobre como atrair cada vez mais trabalhadores “laboriosos” e “morigerados” – para usar duas das mais comuns expressões da época –, europeus do centro e do norte do continente, agricultores e preferencialmente em família.

Notas:

1 Ver, por exemplo, http://www.labeurb.unicamp.br/elb/europeias/pomeranos_brasil.htm e http://www.pmsmj.es.gov.br/pg/24522/o-municipio-154-anos-da-imigracao/, parecendo que a data mais correta para a chegada dos pomeranos é de fato na segunda metade da década de 1850.

2 Segundo matéria de um jornal local, 15 mil dos 40 mil habitantes do município de Espigão do Oeste, em Rondônia, são descendentes de pomeranos, constituindo a maior comunidade pomerana na Amazônia. A cidade conta com um programa de rádio em pomerano e o apoio de um vereador descendente dos pomeranos. Vide http://www.newsrondonia.com.br/noticias/maior+colonia+de+pomeranos+da+amazonia+vive+em+rondonia/46451

3 Segundo um pesquisador pomerano da UFES, vide http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2014/07/noticias/cidades/1492216-a-luta-para-manter-viva-a-tradicao.html

4 Em registro na RHBN em setembro de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/a-pomerania-e-aqui

5 Id.

6 Vide http://www.pmsmj.es.gov.br/pg/24522/o-municipio-154-anos-da-imigracao/

7 Kapeller, Ludwig. Vamos visitar a Alemanha? Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=090972_08&pagfis=15021&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

8 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=107670_04&pagfis=4379&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

9 Vide http://www.pmsmj.es.gov.br/pg/24517/o-municipio-historia/

10 RHBN, op. cit.

11 Ver, por exemplo, http://www.ospomeranos.com.br

12 Acesse a matéria em http://www.newsrondonia.com.br/noticias/maior+colonia+de+pomeranos+da+amazonia+vive+em+rondonia/46451

13 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=238562&pagfis=238&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

*Gustavo Barreto (@gustavobarreto_) é jornalista. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

Fonte: Dois séculos de imigração no Brasil pela imprensa