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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Rádios do RS analisam jogos da Copa em línguas brasileiras de imigração

Rádios do RS analisam jogos da Copa em dialetos europeus

por Vanessa Kannenberg

Emissora de Bento Gonçalves transmite informações no dialeto italiano vêneto e em Westáflia, outra rádio divulga as notícias em sapato-de-pau, derivado do alemão. Ambas pelas ondas do rádio e também na internet

Em Bento Gonçalves, emissora vai fazer concentração em cantina com comida típíca italiana em jogos da Itália - Foto: Cesar Lopes / Especial
A Copa do Mundo volta ao Brasil depois de 64 anos, mas nem por isso tudo é verde e amarelo por aqui. A partir desta quinta-feira, com o apito inicial do campeonato, pelo menos duas rádios gaúchas dão o pontapé em programações especiais sobre o Mundial em dialetos europeus. 

Mais do que isso, o alemão sapato-de-pau e o italiano vêneto são referências até mesmo fora do país, mas que correm risco de se perder na globalização da cultura. E tem muita gente esperando pra conferir as transmissões especiais.

Assista ao vídeo com um programete gravado nos dois dialetos com tradução para o português:


A Copa em sapato-de-pau

Pelas ondas da Rádio Líder FM, na frequência 98,3, em Westfália, no Vale do Taquari, a comunidade descendente de alemães vai ouvir boletins ao longo da programação em Plattdüütsch, ou, simplesmente, sapato-de-pau. No município, o criador, proprietário e locutor da rádio comunitária, Ido Ahlert, 57 anos, estima que mais da metade da população de 2,8 mil habitantes entenda o dialeto.

— Muito já se perdeu, mas 60%, se não fala, ao menos entende. E tem muitos moradores, principalmente, os mais idosos, que só querem conversar em sapato-de-pau. Eles me ligam e pedem: jamais pare com o programa — comenta, orgulhoso, o comunicador.

Isso porque, mesmo fora do período da Copa, Ahlert mantém dois programas, um aos domingos de manhã, bilíngue, e outro nas segundas à noite, em sapato-de-pau, com informações, mensagens e música. 

Ahlert fundou a rádio há cinco anos e mantém estúdio em casa - Foto: Cesar Lopes
A iniciativa já lhe rendeu convites para ir a Alemanha, conduzir programas no dialeto, e, depois de estrelar o episódio O locutor da série comercial Brasileiros de Coração, do Banco Itaú, Ahlert também foi chamado por rádios nacionais para comentar a Copa.

— Não aceitei nada, porque meu lugar é aqui, junto da minha família e fazendo o que faço para agradar à comunidade. Tenho ouvintes fiéis também em outros Estados e fora do país, é pra eles que me dedico — resume Ahlert, já que a rádio, que fica no ar das 6h às 22h, é transmitida ao vivo pela internet.

Tendo aprendido com os pais e avós, e jamais na escola, o locutor desconhece como se escreve o sapato-de-pau ou até mesmo o alemão oficial, idioma que também domina. Mas está frequentando aulas sobre o dialeto, a cada dois meses, porque a vontade de ir além nunca acaba.

A Copa em vêneto

Da mistura do italiano oficial com o português, surgiu o vêneto, também chamado de talian, disseminado pelos imigrantes principalmente na serra gaúcha. O resultado, para os leigos, são frases fortes e cantadas formadas por várias palavras facilmente captadas por brasileiros. Esse é o dialeto que faz da Rádio Viva AM, 1070, de Bento Gonçalves, uma referência nacional graças à internet.

Nos anos 1980, a emissora chegou a ser 100% transmitida em vêneto. Mas a resistência de alguns foi fazendo com que o dialeto fosse perdendo espaço e, hoje, se resume a um programa diário de duas horas e outro aos domingos. O grande diferencial, implementado no início dos anos 1990, continua: transmissões de partidas importantes de futebol totalmente em vêneto.

— Já transmitimos a Copa da África, Libertadores, Copa do Brasil e todos os Gre-Nais e jogos importantes da região, sempre com muito humor — comenta um dos locutores da rádio, Itair Luiz Baldissera, 80 anos.

Ao lado de Rizzo, Pedro Vitor Rizzo, 58 anos, completa a dupla responsável pelas transmissões esportivas da Rádio Viva, de Bento, há duas décadas. Embora sejam só dois locutores, a inclusão de personagens, como a Nona Bambina, o Nono Nani e o Cigano, complementam as bem humoradas jornadas.

— Não temos a obrigação do jornalismo e da técnica nas jornadas, por isso não narramos lance a lance e conseguimos fazer só os dois. Abusamos do humor, de piadas e até cantamos durante os jogos, acho que é isso que cativa o público — completa Rizzo.

Pedro Vitor e Baldissera narram jogos em vêneto há duas décadas - Foto: Cesar Lopes
Nesta Copa, a emissora não poderá narrar a partida em vêneto, devido aos direitos de transmissão. Mas achou um jeito muito criativo de manter a tradição: nos dias de jogos da Itália, antes do início da partida, vai reunir locutores e ouvintes numa cantina, servirá queijo, salame e outros quitutes típicos italianos, junto de suco de uva e vinho. 

A concentração vai ser transmitida ao vivo pela rádio, com informações, palpites e humor em vêneto. No resto da programação, boletins e informações, também no dialeto, para a audiência acompanhar a Copa. E a torcida, é italiana ou brasileira?

— Tenho uma frase que virou bordão da rádio: o sangue é italiano e o coração é brasileiro. A gente torce em primeiro lugar pro Brasil e achamos que vamos ganhar. Mas se o Brasil não joga, a torcida é toda para a Itália — esclarece Rizzo.

Fonte: ZH

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